terça-feira, 25 de dezembro de 2018

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O mesmo me assusta.
As mesmas cores; as mesmas formas; os mesmos, eles me assustam.
Impermanência é minha palavra favorita, e meu hábito favorito é mudar, experimentar, criar. Não só tenho aversão à correntes mas as vejo com mais frequência que o comum. Nos meus estudos, trabalho, nas pessoas, nos meus sentimentos e nos meus trejeitos. No meu eu. Vejo correntes até onde o sol se põe.
As vezes sinto que o meu eu escritor se afasta de mim. A indisposição para a escrita me atinge como um velho aposentado, que diz adeus aos seus enquanto lamenta. As letras me cumprimentam com um aperto de mão amistoso e não muito além disso acontece antes delas desaparecerem ao vento novamente. Sou como um especialista velho que tem a técnica enraizada nos hábitos mecânicos das mãos mas com os sentidos cansados e indecisos, questionadores se este é ou não o caminho certo.
É nesse texto corrido de vários pontos que tento expor. Me expor verdadeiramente, como um poeta que não é fingidor e cuja dor se sente. Mas como faze-lo? O maior desafio daqui não é nem mesmo saber mostrar, organizar as palavras, ter coerência ou vocábulo, quem me dera se fosse.
O desafio é me decifrar. Ir por entre as entranhas do meu ser e descobrir-me. Tento me conhecer há algum tempo guardado em anos. Sou ansioso e me procuro com constância. Equipado de um lampião antigo e marcado por histórias, pelejo por entre árvores altas de um bosque escuro. Posso estar à espreita, escondido atrás de algum desses troncos velhos, a espera de socorro. Ou posso muito bem estar inerte dentro de um lago profundo, cercado de jacarés mortíferos. Não sei onde estou, mas procuro. Procuro-me enquanto cansado e frequentemente desestimulado. Vivo uma constante caçada e só por esta denominação, "caçada", gostaria de que as coisas fossem tão simples quanto o nome.

O que temos até aqui? Um escritor que já não é um escritor, alguém que não é o que foi e tem medo de continuar sendo o mesmo, um homem que se procura com uma cegueira crônica que, à qualquer momento, trará um fim inesperado à caça.

E consigo? Apesar da técnica, da procura, da angústia, consigo me expor? Consigo me transpor em palavras? Vou tentar ser conciso. Objetivo.

Sou alguém sozinho. E me dói saber disso. Não é necessariamente o peso da solidão, nem o medo de ser o único. A dor está em não saber. Em não entender essa solidão arbitrária e consequentemente, não saber se ela me devora. Porque se tem algo de que estou certo, é de estar sendo devorado vivo. Sinto os dentes afundarem na minha pele e sinto o tecido romper. Porra, sinto até mesmo o sangue sair de mim. Perco vitalidade e enquanto me procuro, me descubro presa. Talvez já tenha me achado e, como já disse, sou caça e caçador. Se já me achei, por que me devoro?

O que faço com a solidão? Me disseram que não estou sozinho. Me disseram que está tudo bem em querer outros, em querer ajuda de outros. Mas pra que? Dos outros eu ganho rejeição e daqueles que nem isso me dão, ganho a conformidade de não tê-los. Me sinto sozinho perto daqueles que me têm como alguém. Me tenho só e somente numa roda de amigos, de família, de conhecidos. É difícil querer alguém quando tal opção nunca me deu nada além do desejo. E é assim que sou, um sonhador e alguém que quer. Estou sempre querendo e talvez essa seja me sina. Uma bênção em partes, sim, mas do que tiro em frente à tanta negação? Eu mesmo. Pois sou o resultado depois do sinal de igual. Sou o número resultante de uma equação de desejo e procura de afeto. Sou um número e quem me calcula não é bom em matemática.

Sou muitas coisas, mas da qual eu tenho certeza é esse número que me diz quem está aqui. Por mim. O escritor, caçador, presa, impermanente sonhador que está atrás de algo maior. Sou um, e só isso. 


domingo, 2 de dezembro de 2018

Les temps sont durs pour les rêveurs

Transbordo
Essa vez não são sentimentos
Transbordo de desejo
Sinto mas apenas o anseio, esperança
Sinto a espera pelo que está por vir
Há a dor do que talvez não venha
Transbordo de querer
Desejo de ir, ter, falar, ouvir, sentir, tocar, ser tocado
E essa tensão e inconsistência dentro do peito
aperta o coração e revira por não poder fazer muito além de esperar
Viver no desejo é viver no futuro e desejar é um vício
Os tempos são realmente difíceis para os sonhadores

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Adeus

Você foi meu primeiro relacionamento sério
Companheiro constante e fonte de prazer
A solidão ao seu lado era uma ideia para se olhar de longe
Mas agora que acabou faço uma despedida dolorosa
Acabou porque quero. Porque preciso.
Seus beijos me queimaram o pulmão e seu amor me brotou uma angustia constante
O fogo do nosso contato se infiltrou sorrateiramente na minha rotina
E há muitos lugares que vou lembrar de você
acordar, viver e dormir vão ser narrados pela dor de um membro fantasma
Afinal, mesmo que se passem os dias e meu corpo já não precise de ti
lembrarei de como você melhorou situações e mais do que ninguém me deu um espaço no mundo
Você me fez acreditar que eu precisava de você
Que eu não seria ninguém, ou melhor, que eu não seria aquilo que eu queria sem você
Você se apossou de mim mais do que ninguém fez antes
Não quero ser posse sua porque já sou da vida e de mim
E você me destrói a cada respiração ardente
Por isso, te dou um último beijo de despedida
e te digo adeus com um assopro cinza dentre meus lábios
Vai ser difícil e eu vou sentir sua falta, sei que devemos nos apaixonar
por pessoas, coisas e tudo mais. Sei também que isso não anula nossa paixão por nós mesmos
Mas há aquelas paixões que deram seu tempo
E de paixões idas o mundo inteiro já foi saturado
Saem de nós e se desintegram no fluxo do tempo
Viram pó, algum bom tempo antes de fazermos o mesmo

um texto inacabado de desespero


É engraçado
Sair de quarto em quarto
Escondido, fugindo, em stealth
Atrás de portas trancadas, fogos queimam
Corpos morrem e a fumaça repousa
É o que, necessariamente?
É estranho, engraçado ou triste
É angustiante? Por que?
Não sei, queria saber
Me escondo e me omito
Não sei até quanto disso existo.
Sempre há pequenos clips entortados
Porque ajuda, a isso, a me perder
Junto com lixos revirados, o vício é meu amparo
A solidão, ao nervosismo e tarefas em negação
Não rima, mas é verdade
Essa confusão e essa ânsia de lidar com isso
Isso tudo, é muito porque eu quero muito
E não querer nunca vai ser conseguir
Não tenho nexo, sentido e nem coesão
Também não acabo querendo ser assim, desse jeito
E vejo que nego tudo e não me permito nada
Minhas permissões acabaram todas nos outros
Deixei de me permitir
Sinto dores no corpo, acho que o cigarro me desmonta aos poucos
Acho que ele queima até os ossos, que parecem tão estranhos
Sou um incêndio, merda
Queria saber por que escrever me encaixa, as vezes acho que tudo me encaixa mas nada me prende
Gosto, me apaixono, me dedico e então eu vou embora
Queria não ir tanto embora, não ser tão receoso.

Não concordo com Fernando Pessoa

Cansei de ouvir que o poeta é um fingidor que finge a dor que deveras sente. Porra, Pessoa, não concordo com você. Porque se o fizesse, poderia me chamar de poeta? Teria que ser um fingidor? Não concordo. Se escrevo é porque tenho rebeldia e arrogância necessárias para salvar minhas palavras em textos e expor minhas verdades como se elas pudessem ser as verdades dos outros. Não são. Se escrevo nem gosto de pensar o porquê, mas não gosto de nada que me categorize em algum grupo. Poeta, escritor, qualquer coisa. Escrevo com minhas regras porque são meus sentimentos, minhas palavras e de mais ninguém. É meu mundo e nele posso até fingir, mas evito. Posso ser verdadeiro, mas é difícil. Posso muita coisa. É um lugar onde tenho controle e nossa, como isso é surreal. Como se eu podesse so esqueser os acentos e nao penssar na ortographia. Porque é meu. Eu quero. Eu posso.



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

?

Estou ouvindo a música nova do Young The Giant em loop. Se você quiser mesmo ler esse texto, sugiro que a ouça enquanto isso, ela se chama "call me back". E sim, isso é também uma forma de que eu possa ouvir música na terapia de novo. Eu gosto muito de música, acho que faz tudo uma coisa melhor. É um intensificador de ânimos, acho que pessoas sentimentais demais ouviram muita música.
Eu fumei um cigarro agora, ele foi uma sensação boa. E outra que eu, mesmo gostando, não me livrei nem por um instante de todos os sentimentos ruins que me trazem até ali, aquela tragada cinza que queima.
Fumo e me completo de alguma maneira. Me dou par. Me tiro da solidão e me coloco num lugar à dois. Ou não, talvez não seja isso. Talvez seja o jeito que ele se acomodou em mim. Parte de mim. De quem eu sou. Por que? Talvez não seja isso e talvez isso nem mesmo seja de verdade. Os dias passam e parece menos fácil agora. Já estava difícil antes. Como me livrar? Será que está tudo na minha vontade?
Estou reflexivo, mas divagando bastante.
Passo os dias tendo ideias e seus respectivos detalhes e progressos e conceitos. Me impressiono com elas. Mas junto com minha criatividade também ganhei a preguiça e a falta de uma boa memória. Nunca lembro das ideias. Quando lembro, costumo a ter preguiça para anotar. E então me torno um criativo procrastinador. Não sei o quanto me orgulho disso. Mas olha aí, to escrevendo e isso é algo. Produzindo.
Produzir satisfaz e por quê isso? Estou questionador hoje. E um texto de questões serve mesmo pra te deixar mais curioso do que quando começou, muito mais. Me desculpe, eu também fico curioso. As perguntas só flutuam, nunca caem, nunca alçam vôo.
Feliz é o ignorante que pensa que sabe. Porque quanto mais você pensa, mais pergunta, mais conhece, mais sofre também. E o descompromissado pensador paga pelo preço do conhecimento. Conhece, se expande e então se perde.
Perdido.
Perdido mesmo? Não sei. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

questionamento das obviedades de hoje

Esse texto vou escrever bem rápido e despretensioso porque nele quero apenas constatar e questionar o óbvio, e  não vai ser nenhum óbvio que me virá a mente amanhã ou ontem, então isso com certeza deve diminuir isso aqui em algumas linhas. Será esse texto então um amontoado de fatos, perguntas, e prováveis respostas. Irei torcer para que o entendimento possa se propagar do meu coração para minha cabeça e depois pelos dedos e aí então pelos olhos de outros, mas não irei prometer nada.

Quando acordei senti vazio de novo. Mais sutil do que aquele do dia seguinte à sua partida. Por quê ainda é vazio? Por quê ainda dói? Ele foi embora, acabou. Foi bom o que houve. Por quê foi bom? Por que testemunhei uma reciprocidade tão intensa quanto nunca. Sua aparência não era daquelas que me encantariam absurdamente caso o visse passar pela rua e sua personalidade era de traços que eu não vibrei de  prazer ao conhecer. Mas a soma de tudo... Sua alma, provavelmente, aquilo me fez encantar com todo o resto. Seus olhos castanho claro, seu subir e descer das sobrancelhas quando mantínhamos contato visual por muito tempo e isso o deixava desconcertado, seus gostos, seu carinho. Ele foi cristalizado na minha cabeça e no meu coração. Dentre as obviedades que quero questionar, a de saber por quanto tempo isso irá durar é a única que me mantenho distante. Não quero saber por antecedência porque isso nunca saberei e o ato de tentar só me deixaria mais longe de finalmente o conseguir.  

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Filha do diabo

  Minha mãe sempre dizia que o pai da mentira era o diabo. Nunca  desmenti até porque eu, criança, com a mesma inocência de um adulto mas à anos do direito de poder negá-la, aceitei o fato de bom grado. O pai da mentira era o diabo e o diabo era mau.
  Não cresci um grande mentiroso mas que menti muito, ah se menti. Uma mentira aqui e outra ali, o Deus da minha mãe nem iria se dar conta, talvez até ele mesmo acreditasse em mim às vezes. Hoje, adulto, me dou o crédito de ter sempre mentido por bons motivos. Hoje, adulto, mentiroso e inocente. Bons motivos são a princípio de um conceito público mas que bastam serem questionados por alguns segundos que sua realidade pessoal vem à tona. Mentiras por bons motivos nunca passaram de mentiras pessoais e nunca chegariam a ser parte de um consenso. Eram mentiras.
  Em algum momento, minhas pequenas amigas nada verdadeiras começaram a tomar novas formas. Elas cansaram de viver na boca e fugiram para outro lugar. Não os ouvidos dos outros, não. Fugiram para dentro. Acharam em mim um hospedeiro saudável para se alastrarem. Não sei ao certo onde ficaram, mas imagino que meu coração tenha sido sua casa. Vermelho, pulsante, vivaz, grande anfitrião.
  Naturalmente as mentiras de dentro se tornaram perigosas. Até porque não é como se pudesse haver algum outro músculo que fosse tão intenso e poderoso como esse para produzir coisas tão intensas como essas. Penso no diabo e nas suas filhas, seriam as de dentro até mesmo tão perigosas quanto as de fora, mas pelo menos essas da boca nós sabemos o que são. Sabemos da verdade. A verdade só é verdadeiramente libertadora quando se sabe da mentira. A vida é assim, por cultura ou por instintos antigos da espécie, se sente mais com a perda do que com o ganho, e nada é avaliado sem comparar pesos. Nada é valioso por si só, e ponto.
  As filhas já me disseram que eu não era bom o suficiente. Uma vez, no canto do meu ouvido durante aquela tarde esverdeada de verão, me disseram que eu nunca poderia ser feliz. Suas vozes eram claras e iam do meu coração todo o caminho até meus ouvidos principalmente nas noites enquanto estava sozinho fugindo dos pensamentos. Elas me diziam que eu não podia sentir. Era errado. Era incorreto. Me faria mal.
  Mentiras. Elas dizem que eu não posso chorar por ele. Elas me gritam que eu não posso dar valor aos beijos fortes e abraços longos, que a água quente batendo nas nossas costas enquanto abraçados como um só é algo que precisa ser exterminado e, não sendo possível, guardado nos confins da minha memória, para que mais ninguém possa achar. Elas me sussurram gentilmente que tais pensamentos me fazem mal.
  Filhas do diabo, não as culpo. Sei que me querem o bem e realmente sinto muito por as ter deixado tanto tempo morar comigo, na intimidade do meu ser, talvez agora pensem que fazem parte de mim, mas não mais. Eu simplesmente não posso mais negar toda essa carga absurda que me veio junto naquele parto de cesariana aos berros da minha mãe no Rio de Janeiro em mil novecentos e noventa e seis, às oito e quarenta daquela noite de julho. O peso cresceu durante todos esses anos e hoje o carrego incerto, mas determinado a entendê-lo. Eu sei que a jornada vai ser longa, que tenho medo e não estou preparado, mas preparação nunca foi pré-requisito pra essa vida. Portanto, parasitas do coração, não sei se sentirei falta, mas começaremos a dizer adeus. Está na hora de finalmente abrir esse músculo às minhas próprias verdades, e elas desde já me falam coisas. Elas me falam melhora.

domingo, 16 de setembro de 2018

Ipanema and a night full of stars

I don't think that things happens for a reason
I think it's the other way around
If I didn't wake up early on that Saturday morning, if I didn't meditate and see your messages, this would never happen. If I didn't go to somewhere 3 hours away from home just to meet a complete foreign stranger, this would never happen.
And I'm glad it did.
We talked about parents, about caipirinhas de cachaça and capirinhas de vodka. We talked about the sky and about the beach. We also talked about the present, while holding hands and deciphering our eyes' colours. This, the present, this is where everything happens. It doesn't need a reason, it doesn't need a purpose. It happens while we breathe in and breathe out. It happens when the past has already gone and the future doesn't have anything to offer but uncertainties. That present was special, though. We, two strangers, met in a unknown place, looked for drinks and sang by the sand. We stayed in a silence more meaningful than a thousand words. We were drunk buddies, friends and even lovers. And that was it.
Today I cried. But they were not tears of sadness (of these ones I've already have a good knowledge and practice) even if I wasn't happy to say goodbye. They weren't tears of saudade (the portuguese substantive for missing someone), even knowing that I'll miss you. These tears, they were of a strange feeling of hope. These tears may have blurred my vision but they made it clear for me that good things can happen. And love is still a strong thing that can come into our lives, make a difference, change you and then it can say goodbye without hurting. And I won't say that it didn't hurt to hug you for almost two minutes before we said goodbye. It did. But that's a hurting I can handle. That's a hurting that shows how good was this weekend for me.

So it's over, but please just say you'll think of me, think of me fondly when we've said goodbye. Remember me, once in a while, promise me you'll try. Think of all the things we've shared and seen, don't think about the things which might have been.

Obrigado.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

uma narração de um dia e meio da vida

Memórias são um conceito falho. O tempo passa e até mesmo a melhor das mentes não vai retratar com precisão perfeita o que aconteceu, porque aquilo está perdido. É inocente da nossa parte pensar que não. Mas preciso relatar algumas coisas, mesmo que minhas memórias, mesmo as de ontem, já falhem em ordem, intensidade e talvez até mesmo veracidade. Mas contarei tudo no agora, pois não há nenhum outro momento de escrever. Quando se escreve é como quando se respira, só o fazemos agora, nem antes e nem depois. E é nessa importância do agora que irei me dispor à contar, porque mesmo que em frangalhos, memórias são contadas no presente, que as altera, as manipula. E o presente deve saber de algo importante para fazer desse jeito. Pois bem, o darei as honras.

Hoje: aproximadamente 16:00, 14 de setembro de 2018

Fecho a porta do meu quarto, o coração acelerado, sento na cadeira em frente ao computador e recuo um pouco para ter espaço ao trabalhar nesse nó apertado da sacola. Não demoro muito pra abrir, o sentimento é de ansiar por um tesouro. Quando consigo abrir, mosquitos brotam de dentro. Alguns passam pela minha mão com suas patinhas em uma velocidade anormal, como se estivessem saindo de um cativeiro e tivessem acabado de ser liberados após anos. Eles se comportam como animais que nem lembravam muito como voar, mas logo recuperam a memória e se espalham rapidamente a minha volta.

Ontem: 13 de setembro de 2018

Como regra, foi um dia longo da minha rotina semanal. Acordei cinco horas da manhã, fumei o resto de um paiol que havia do lado da cama, adiei o alarme alguns minutos até ser inevitável levantar-me sem me atrasar. Me atrasar voluntariamente, porque o trânsito foi incerto como sempre. Fiz a viagem em pé, cheguei n faculdade, lutei contra o sono, contra a fome e contra as minhas suspeitas. Consuelo estava estressada, Fernanda estava estressada. Quando os outros chegam, elas conversam mais do que comigo, quando os outros saem, o silêncio é uma porta que eu escolho deixar aberta ou fechada. E somente eu. Decidi que após a faculdade não iria para a academia. Ia voltar para casa e descansar as uma hora e meia que eu teria direito antes de ter que me arrumar e voltar para a cidade de novo, para a realidade. As vezes faço essa quebra na rotina porque hoje eu me dou conta de como estar deitado na minha cama, mesmo que alguns minutos, pode ser valioso. Antes de ir pra casa, comprei um cigarro, fumei-o, mas não vou listar as vezes que fumei com precisão, não só porque não lembro mas também porque seria irrelevante, apenas fumei. A mesma fumaça engolida com prazer e/ou culpa de sempre. Voltei para o trabalho, dei minha aula e me leram cartas. Renan lê essas cartas de Tarô. Perguntei em silêncio obviamente pelo assunto que mais me acompanha, dia e noite, hora após hora, inspiração após expiração. Quando irei parar de fumar?
Carta 1:influência do passado: algo ligado a sentimentos, instintividade em detrimento da razão.
Carta 2: influência do presente: revelar demais, de repente pra pessoas demais o que deveria ficar mais oculto. O sol ilumina mas também pode cegar.
Carta 3: Conselho: atitude, princípio de ação por minha parte
Carta 4: Resultado caso o conselho seja seguido: princípio de sucesso ou início de prosperidade.

Era isso: Eu precisava de atitude. Obviamente, como um fumante de mais de ano, não foi a primeira nem a vigésima vez que eu teria tido consciência da validez da minha atitude. Mas as cartas disseram, não eu, e por algum motivo isso teve mais valia. Eu sei que eu posso. Eu vi: É hoje, o grande dia. A mudança. Eu vou conseguir chegar no princípio de sucesso, eu vou conseguir.

Depois do trabalho, fui para a academia, não havia problema em chegar mais tarde em casa pois no dia seguinte eu não precisaria acordar tão cedo. O treino lá foi surpreendentemente bom, fiz tudo com calma e de atenção plena. Foi bom, produtivo e interessante. Quando saí, fumei a metade do cigarro que estava na minha mochila, sabendo que aquele seria o último, olhei para o céu azul escuro e me encantei com a lua crescente, que parecia sorrir pra mim.

Hoje: aproximadamente 8:00, 14 de setembro de 2018

Acordei de uma sequência incrivelmente longa de sonhos, a maioria de sonhos bons, pequenas cidadezinhas com céus estrelados. Fumei o resto do último paiol e joguei a ponta intragável no lixo. Era hoje, o dia de mudanças. Depois de limpar todo meu quarto, varrer toda aquela cinza espalhada e limpar os móveis daquelas pontas de cigarro, guardei as roupas, enchi as garrafas d'água e deixei tudo nos seus devidos lugares.Quando finalmente acabei, pensei: Dessa vez não vou me prometer nem me proibir, isso já me fez muito mal. Vou me permitir a recaída mas também vou me dedicar ao máximo evitá-la.
O dia foi complicado porque além da falta de internet, que já fazia dias, tive que ir e vir na escola aqui do lado umas boas vezes. A falta de organização deles me impediu de estagiar nas turmas que eu devia estagiar, além de me gastar um bom tempo e alguns banhos desnecessários, na sexta feira que vem devo começar a estagiar lá de novo. O dia foi dividido por alguns pensamentos de Gostaria de um cigarro agora. que eram seguidos rapidamente de Estou pensando em como gostaria de ter um cigarro agora. Estou pensando isso. Pensando.  

Hoje: aproximadamente 16:05, 14 de setembro de 2018

Peguei a sacola errada. Disse ao passar pela cozinha com a sacola cheia de bichos fechada novamente. Disse à minha mãe que procurava um papel com número de telefone que havia jogado no lixo. Na varanda, achei o meu saco de lixo, aquele que fechei mais cedo, junto com quase promessas e recomeços. Voltei ao quarto e tranquei a porta, lembrando de todas as vezes que fechei a mesma sem usar a chave mais cedo, porque até agora eu estava no recomeço, estava novo, estava tentando.Abro o saco e aquela ponta de paiol estava ali, logo em cima, olhando para mim. A frustração já tomava conta de mim mas era claramente mesclada e diminuída pela vontade. A vontade, aquela que mata. Peguei da lixeira também o tubo de caneta que usava para fumar essas pontas de paiol. Estou acostumado com essa vergonha solitária, vergonha de mim mesmo, fuçar o lixo por aqueles cigarros que me prometi não fumar novamente.
Coloquei a ponta na caneta e acendi, puxando do outro lado com força. Prazer. Um prazer danificado, desonesto e acompanhado de tudo aquilo que todas as tragadas me proporcionam. Um sentimento quente entrando garganta abaixo enquanto me satisfaz mas ao mesmo tempo me queima, arranha-me por dentro e me deixa logo em seguida com falta de ar, precisando respirar rapidamente para poder inalar ar o suficiente para me manter vivo e consciente. A garganta estranha, o pulmão pequeno e debilitado, o gosto de derrota e inferioridade. Tudo mais uma vez. Outra recaída daquelas depois de um plano daqueles. Logo após a primeira tragada, a vontade já tinha me abandonado, me deixando ali sozinho com o descontentamento e a tristeza, aquela que me acomete tão raramente esses dias mas que nunca me deixou esquecer sua cara.
Planejei repor o plano. Começar de novo. Amarrei a sacola e joguei fora. Disse tão determinadamente na minha cabeça que era quase como se as palavras saíssem da minha boca: Essa foi a última vez.
Mas se eu sei disso? Não. Já me abdiquei da certeza há tempos atrás. E hoje vou dormir com a dúvida e aquela pitada de determinação. Vou dormir talvez com a vontade e acordar com ela. Mas viver com a dúvida. E embora pesquise, estude e pergunte, parece não haver maneira certa ou eficaz. Espero não me cansar e apesar de tudo, continuo acreditando em mim. Então não vou desistir de falhar, mesmo que meu medo seja de que a grande corrente de falhas acabe sendo contraproducente, porque é tudo o que eu posso fazer. Tentar e falhar. E talvez seja tudo o que eu sempre pude. 
 

sábado, 1 de setembro de 2018

Coisa

Ontem foi uma coisa. Fui pra reunião, falei com o menino, falei muito. A coisa mesmo aconteceu quando eu soube que não iria ganhar o bônus do trabalho. Eu pensei que ia. Me disseram que ia. Mas não ia que nada, não ganhei! Fiquei de um jeito, que ó, foi uma coisa.
Estava coisado, mas aí menina, que olha só: No final entendi, aceitei, falei "poxa, ok". E hoje aconteceu. Acordei tarde, me espreguicei e decidi que o dia seria bom. Eu estava aceitado, curado, melhor, o ponto de ontem foi uma coisa mas hoje não seria, hoje foi uma coisa.
Estou ouvindo a música que fala "não cante vitória muito cedo, não", Belchior, da playlist que Consuelo fez. Respondo "não cantei vitória não". Engraçado.
Mas então eu acordei, sorri, tomei café, abracei minha mãe e falei com minha irmã  Eu só precisava arrumar a casa, esperar Roberto, meu amigo e aluno, chegar, e dar a aula dele. Depois o menino viria. Que dia! Vai ser uma coisa ótima. Minha irmã disse que havia um cara na frente do nosso portão, ele pediu pão, ela negou. Foi me dito para ficar atento, elas ficaram preocupadas e sabiam que o cara estava deitado na nossa calçada. Achei estranho, não tem muita gente transitando por aí. Moro longe de tudo e de todos, mesmo. Não vejo muita gente, uma comunidade pequena. E então eu arrumei a casa, falei com o menino, fiz planos na cabeça e esperei Roberto. Quando Roberto chegou, saí do banho e , olha a coisa aí, descobri que ele tinha sido assaltado. Fiquei impactado ao saber que ele inclusive levou um soco e foi jogado no chão. Pegaram tudo dele, a mochila com tudo, nosso curso, o dinheiro dele, o celular, foi tudo embora, ali naquela mochila. Tudo. E quando aconteceu a coisa, o homem que estava deitado no meu portão correu. Ele correu e deixou os chinelos, uma garrafa d'água e o papelão em que deitava. Devia estar desesperado. E imagina, ele também perdeu muito provavelmente tudo.
Fiquei triste, tentei ao máximo confortar Roberto e tentar acalmá-lo. Mas ele já estava muito calmo, Roberto é assim, racional. O outro problema é que nós vamos falar sobre o curso agora. Acho que não vamos ter mais aulas aqui. E ele mesmo disse isso. Ou seja, acho até que talvez ele não volte a querer ter aula comigo, afinal de contas, ele precisa resolver outras coisas agora, pagar outras coisas agora e talvez não possa mais ter aula comigo agora. Isso é uma coisa: perder mais da metade do que ganho. Como pode isso? Dois dias e eu tinha perdido muito dinheiro, como posso perder dinheiro? Tenho que pagar academia, psicóloga, passagem, meu livro de francês, FANTASMA DA ÓPERA. meu coração até acelera agora e fico nervoso no presente, mas o que relato aqui é o passado. Porque as coisas se misturam?
Roberto foi embora e as dúvidas me ficaram. O menino perguntou o que houve, disse a verdade. A verdade fez ele ter medo, disse que lhe era gatilho e o proibia de uma melhora e o jogava numa recaída, ou piora. Então diante do seu receio, disse que faria um plano louco que teria tido a indecência de ter cogitado mais cedo. Eu sou assim, gosto de sair de casa quando me sinto trancado mesmo que emocionalmente, preciso sentir o vento, ver minha casa do outro lado dos muros. Eu fui À Niterói comprar um cigarro. Uns. Inclusive aquele que o menino fuma. Estava ficando melhor, tanto que quando cheguei em casa, estava certo de que eu estava bem. A aceitação já tinha começado a mexer comigo. É isso. Essa coisa. Um cigarro fumado não foi a transformação esperada mas eu já sei. É um vício ruim, um hábito sim, mas nunca um remédio. Sua pressuposta cura me daria prazer e seu veneno me mataria, mata. Mas voltei pra casa, bem aceitado e respirando fundo.
O menino nem ia mais. Faria mal pra ele, o medo, ele tem medo. Eu fiquei outra coisa né. Mas ele tava passando pela aquela coisa dele, ele não é o culpado, foi a coisa.
Mas enquanto ele pensa nele, na coisa dele, fiquei pensando na minha coisa. E será que ele se afetou tanto quanto me afetou? Não sei. Mas a questão é eu não me afetar, não era? Sei nem mais. E isso quer dizer então que eu estou bem. Escrevo esse texto pra falar das coisas que foram esses dois dias. Muita coisa além disso conseguiu acontecer e eu te falaria isso se a gente estivesse numa conversinha boa agora. Mas é isso, escrever isso foi uma coisa, boa, imagino.

domingo, 19 de agosto de 2018

Possibilidades

Às vezes o dia é aberto. Mil possibilidades se encaixam com coesão na minha cabeça e 24 horas não passam de números, teoria que não deve ser levada a sério e merece ser esquecida, pelo meu bem. Nesses dias não me limito às noites, vejo o dia levar semanas, meses ou até mesmo anos. Nesses dias eu posso ser o que quiser. Posso morar fora, posso ter minha casa, ter minha família, ter quem eu quiser no meu lado. Posso ser a melhor versão de mim mesmo e ajudar os outros a serem suas melhores também. Nesses dias as possibilidades são imensas. Não digo que viro um sonhador porque pra mim esses dias não passam de insights poderosos de como eu sou ativo no meio em que vivo. Mostram-me como posso mudar tudo enquanto me mudo, como posso alcançar as coisas e como posso ir longe. Esses dias.... Me reconfortam e me dizem que, apesar de aceitar o presente, posso correr atrás do futuro, porque ele é aberto, ele é hoje, e hoje é infinito.
Estou feliz e minhas maçãs do rosto começam a tremer com a premissa de lágrimas. Eu sei que alguma hora eu não vou mais acreditar. Alguma hora o dia vai encontrar a noite e a angústia vai crescer dentro de mim, apagando todos os rastros de um dia infinito com possibilidades infinitas. Me dizendo que não posso largar dos vícios e me dizendo que não posso nem mesmo aprender a tocar aquela música que tanto quis aprender, ou ir para aquele lugar falar aquela língua que tanto quis falar. A noite vem porque apesar de sonhador, sou humano, e humanos cansam, humanos fraquejam.
Em algum lugar dessa noite escura, ouço a voz sussurrar:
Olhe
Para
Os
Lados

Eu olho. E vejo humanos. Eles estão cansados também. Fraquejando assim como eu. É engraçado.

Olhe bem.

Eu olho. O nó se faz na minha garganta. Vejo humanos. Eles são fracos.

Olhe.

Eu olho. Vejo humanos. Eles vão tão longe.
Tão longe.
Humanos.
Seus dias infinitos acabam. Mas eles vão tão longe....

Até onde eu conseguirei chegar? Depende.
De mim.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Escreva, não importa o quê, escreva.

Foi assim que consegui terminar meu livro. Eu escrevi, não importa como estivesse me sentindo, não importa o quão distante eu estava do sentimento da escrita ou até mesmo a quantidade absurda de indisposição que eu sentia no momento. Eu escrevi. É com isso que tomo o pontapé inicial para escrever isso agora. Me sinto diferente, como alguém que sabe da quantidade surreal de textos produzidos no histórico mas ainda assim como se, ao tocar as letras no teclado, trabalhasse com uma ferramenta estranha. Pertenço à esse lugar? Atrás do computador escrevendo palavras? Quanto mais escrevo, mais me lembro, e aquele tremor nas maçãs do rosto me atinge junto da ardência suave nos olhos. Estão lacrimejando. Talvez seja a música da escuridão no fundo, fantasma da ópera, mas não ligo, sempre fui da música mesmo.
Por que escrevo? Por que alterno logo de aba no navegador para colocar a música pra repetir? Por que escolho esse ambiente de solidão para me entender melhor? Sou a favor de dizer que nunca somos algo concreto, mas que somos apenas algo de agora. Mudamos o tempo todo e o tempo muda sempre. Mas escrevo, ouço e sinto numa tentativa involuntária de me agarrar à uma parte atemporal e fixa de mim mesmo, por querer? Não sei. Não sei de muita coisa esses dias. Cada um dia um instrumento diferente, cada dia um descontrole diferente, cada dia uma tentativa infeliz de saber o porquê de tudo isso que me aflige, tudo isso que não faço a mínima ideia de como nomear. Impotência? Impaciência?
Eu gostaria de me ver como vejo os outros. Com esse olhar distante e idealizador. Queria me olhar desse jeito que deseja, que admira, que desvenda. Mas me olho com a arrogância de quem entende bem e me julgo. Me coloco no lugar de quem deve melhorar e aponto minhas fraquezas sem aceitá-las. Me martirizo e me culpo. E eu sei. Eu sei que não devo, eu sei de tudo. Mas porque saber é tão diferente de fazer? Tomar para si mesmo, aprender, aceitar. Aceitação é cura, sempre disse, mas estou tão doente... Não sei o que devo aceitar, o que devo negar, queria ao menos saber direito pelo que lutar. Por quem lutar. Sei que por mim mesmo, mas a guerra nunca foi contra os outros.
Sei que já escrevi isso, várias vezes, mas a guerra é aqui dentro. Porque é aqui dentro que dói e é aqui dentro que sente.
Fiz minha parte. Me escrevi mais uma vez. Agora vou sair um pouco, falar com alguns amigos, jogar, ouvir música, dormir. A luz do dia sempre renova. Vou esperar por amanhã.

domingo, 10 de junho de 2018

Attendre

Il y a des bons jours. Tout le monde connaît les bons jours.
Le temps est bon, les visages sont tous heureux et l'amour est très présent que jamais. Les sourires sont là, cette chaleur à la poitrine me réchauffe, me fait du bien, me rassure, me dit que tout ira bien.

Mais il y a aussi une chose que j'appelle de jours fragiles. Tout le monde connaît les jours fragiles.
Le soleil peut même échapper aux nuages mais le temps n'est pas bon. C'est tout triste, c'est tout lourd, mes yeux voient tout en noir et blanc. Dans les jours fragiles les pensées sont très agressives, ma peau est très fragile et il semble que je vais éclater de l’univers.

Est-ce que je veux éclater de l'univers? Dans les jours fragiles, je sais pas.
Dans le jours fragiles, je ne peux que fermer mes yeux, respirer profondément et attendre que le soleil se lève de nouveau, attendre qu'il puisse réchauffer ma poitrine froide, attendre que le jour prochain soit bon. Donc c'est ce que je fais, j'attends.    

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Primeiro de junho

Hoje é seu aniversário.
Talvez o motivo disso seja minha empatia enraizada, talvez a saudade e com certeza meu jeito de sentir demais.  Esses dias eu vi com clareza um mundo sem mim, hipótese de tempos em tempos recorrente aqui dentro. As pessoas sentiam falta e sofriam. Eu sei porque foi assim com você e não seria muito diferente comigo. É diferente essa perspectiva de ausência, lugar onde trabalho com maneiras de como as coisas poderiam ter sido e como as coisas ainda poderiam ser, sem um ou sem outro. Imagino constantemente como as coisas podem ser diferentes a medida que fazemos decisões, como a de ir ou ficar. E dói saber que talvez tenha sido assim com você um dia. O que eu sinto não é apenas saudade, mas uma constante impermanência e confusão de ideias na cabeça que me fazem sempre pensar demais. Querer fazer diferente com os que já não estão mais aqui nos impulsiona a fazer diferente com os que ficam. Eu adoraria fazer diferente por você. Fazer diferente com eles. Fazer diferente comigo mesmo. Feliz aniversário irmãozinho.


quarta-feira, 30 de maio de 2018

A ma grande amie qui parle français



Nous avons déjà été grands
Nous avons déjà été importants

Nous avons déjà été infinis 

Et tout ça qui est déjà passé se complique en écrivant 
Il n'y a pas de poème qui puisse traduire une amitié comme la nôtre
Et c'est dans mes efforts ici en vain  qui j'essaie  de te dire comme je me sens

Je ne veux pas te battre

Je ne veux pas te faire du mal
Mais ces jours-là j'ai appris à 
donner l'amour que je reçois
 

Je t'aime encore 

C'est ma bénédiction et ma malédiction
Entre mes tentatives de te joindre, ça me fait mal de te voir partir petit à petit
Tu me manques comme aucune amie ne m'a manqué avant 

Mais ça ne fait pas mal

Je t'attendrai pendant que j'essaie  de diriger mon cœur
Dis-lui que tout va bien en l'absence
Je t'attendrai revenir et m'appeler chéri
Dis-moi que notre amitié compte
Je t'attendrai parce que nous avons dit que nous serions éternelles

Je t'attendrai

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Mãe

Eu não sei onde tudo começou  a ficar tão difícil.
Talvez tenha sido quando eu comecei a me sentir excepcionalmente triste, ou quando eu descobri que o meu prazer era despertado nas pessoas "erradas", ou quando descobri que sentia demais das piores maneiras possíveis. É nesse palpite de sentir muito que eu aposto boa parte dos meus problemas, incluída aquela depressão que vai e volta como um vizinho chato que insiste em entrar na minha casa sem permissão.

Os dias não têm sido fáceis, nem pra mim e nem pra você. Nós temos nos tratado de maneiras que nunca mereceríamos e imagino que há muita culpa nas circunstâncias, na divergência de pensamentos e na insistência inconveniente que é viver com alguém de momentos tão diferentes dos seus.
Sinto por mim e consigo facilmente sentir por você e saber que somos ambos solitários. Sentimos falta de carinho e de amor grande parte do tempo. Sentimos falta de gente que foi embora e de gente que nem mesmo chegou a aparecer nas nossas vidas. Temos amor pra dar, mas ao mesmo tempo nos envolvemos em carapaças rígidas e impenetráveis porque já passamos por muito e temos medo de passar de novo. A vida não foi e nem tem sido fácil com a gente e é triste saber que passamos boa parte do tempo nos colocando um contra o outro, quando o que mais precisamos é estar juntos.

Eu não acredito que laços familiares sejam premissas de boas relações afetivas. Quando se nasce gay, é mais fácil de ver que nossa verdadeira família não somos nós que escolhemos é mais fácil ainda de ver que nossa família muitas vezes não vai ser 1/3 do que achamos fora de casa. Hoje descobrimos que família pode te fazer sofrer, pode te fazer chorar e inclusive pode, no sentido literal da palavra, matar você. E eu sei que sou privilegiado. Da minha família, você e Vanessa, sempre tive abrigo, amor e carinho. E mesmo que por algum tempo tenham havido pausas para reflexão e aquele tipo de crescimento gradual e efetivo, eu sei que também tive de vocês aceitação e entendimento. Eu sou grato por esse amor e me culpo todos os dias por não expressar de volta todo o amor e a gratidão que foram cultivados dentro de mim. Todas as vezes que ouço histórias de famílias que machucam seus filhos, lembro de como sou sortudo de ter você.

Eu demorei muito pra começar a entender o que é amor próprio. Demorei tanto tempo que consegui cicatrizes emocionais e físicas das dores que passei e que insistem em me lembrar sempre de como é sofrer. Hoje eu consigo ver um feixe de luz do que é amar a si mesmo. Consigo não abraçar todo ele de uma vez, algo que com certeza é impossível pra qualquer um, mas pelo menos entender que ele existe e está lá, para mim, pronto pra ser usado. Hoje eu me amo. E por incrível que pareça, mesmocom todas as nossas diferenças, tenho certeza de que você é no mínimo 50% de mim, algo que ninguém mais conseguiu ser. Te copiei nos melhores traços e cresci nas suas melhores lições. Me desculpa por não conseguir retribuir todo o amor que você me deu todos esses anos, é uma tarefa impossível de se completar integralmente e difícil de encaixar na nossa cansada rotina. Mas saiba que quando você duvida do meu amor, dói tanto quanto eu duvidar do seu amor, é ofensivo. Eu te amo e eu sei que esse amor nunca vai ser o suficiente pra você porque você merece muito mais, mas faço o que consigo e amo como posso. Vai dar tudo certo no final das contas, sempre dá, é o que costumo a dizer para mim mesmo...

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Oração

Cresci numa casa evangélica.
Acredito que nossas circunstâncias atuais iluminam aquelas coisas que, anos atrás, estariam servindo de motivos iniciais. Não o contrário, como que se o passado definisse nosso presente, acho que essa é uma concepção que tomamos para aceitar as coisas mais facilmente. É o que faz sentido pra gente, algo fácil de engolir.
Eu orava. Fechava os olhos e falava com Ele, alguém de que minha família tinha muito respeito, que todos eles diziam amar mais do que qualquer um, inclusive nós mesmos. Eu sempre me perguntava o porquê desse amor ser tão grande, irracional e mal fundamentado. Hoje em dia entendo os porquês, mas sou grato de não compartilhar da mesma chama ao divino nunca visto. Meu lado divino se debandou para outras coisas, outros aspectos da vida que resolvi realmente dar valor. A questão é que as vezes me pego numa necessidade estranha de orar. Aliás, desde agora já vou me explicando porque não quero que muitas das minhas palavras sejam lidas enquanto pensem que eu quero orar pra "deus". Eu orava quando criança pra pedir. Agradecia por obrigação e pedia pra ganhar. Todos queremos ganhar coisas, desde crianças. Hoje eu escrevo. Peço? Peço. Mas sei que meu apelo é pra dentro, meu divino é outro. É engraçado como escrever (o que considero assim como muita gente uma ação solitária) me traz mais conforto e companhia do que falar, de olhos fechados e mente "aberta" para alguém que nunca chegou de fato a me responder. Sua resposta vinha das bocas daqueles que o glorifiavam. Demorei a perceber que a resposta era humana, assim como a mentira.
Portanto, eu escrevo. Agradeço por poder e saber estar aqui. Peço pra ganhar. Mas sei que não vou ganhar nada de ninguém. Peço pra ganhar de mim mesmo.
Me dê força de vontade, me dê olhos de observador e não de acusador, me dê inteligência intelectual e espiritual para saber meus meios. E por favor, me dê luz para que eu não me perca de novo.
Amém

domingo, 15 de abril de 2018

Dor terceirizada

Eu sei que eu sofro porque as pessoas fazem coisas que me afetam se nem mesmo perceberem, e é horrível viver assim porque eu sei que a culpa não é de ninguém, senão desses meus traumas internos e da minha sensibilidade que eu passo todos os dias tentando dizer que não se trata de um defeito, mas que é quase impossível de defender. Eu to escrevendo isso pra vocês porque eu quero que vocês saibam o que aconteceu, porque não ia me aguentar sabendo que nem mesmo passou pela cabeça de vocês o quanto aquilo me machucou. Eu quero melhorar, mas tenho medo de que eu realmente seja assim e não há concerto pra isso, então não sei o que vou fazer. De qualquer maneira, estou com um enorme peso a menos por me abrir pra vocês porque eu realmente os amo do fundo do meu coração e eu sei que vocês nunca iriam me machucar desse jeito deliberadamente. Mas as coisas são como são, e esses dias eu só sinto dor e nem mesmo tenho a quem culpar.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

De novo.

Meu fôlego se despede enquanto meus dedos choram por misericórdia. Não quero escrever, quero me expor, como sempre quis. Porque é nas minhas tentativas de exposição que tento trocar, tento esvaziar um pouco dessa imensidão que sinto. É sempre assim. É sempre difícil. É sempre trabalhoso e triste me soltar de tanta coisa que insiste sempre em se prender a mim. Quero novamente ir embora porque estou cansado. Queria mais que tudo não precisar sempre escrever as mesmas coisas e passar pelos mesmos caminhos. Queria me livrar desses ciclos e fugir desse limbo. Mas sempre acabo aqui, escrevendo as mesmas dores e fugindo dos mesmos temores. Reivindico mudança constante mas o ponto de partida sempre parece tão perto que dói. Queria ir pra longe. Daqui e de mim. E minhas alternativas parecem escassas porque a dor vem de dentro. E as alternativas parecem escassas porque não parece haver saída. Porque o labirinto não desemboca fora, acaba dentro.  Aqui dentro que é escuro, amedrontador e sozinho. E com certeza já escrevi essas palavras, e elas já me escreveram. Estou preso de novo. E as barras de ferro que me cercam parecem mais geladas que nunca. Não quero mais.

sábado, 20 de janeiro de 2018

ok

Eles acham que dá pra sentir bem e sentir mal, que devemos ser felizes e amar e se apaixonar e sentir paz e sentir calma. Sentir dor, sentir tristeza, sentir amargura, sentir raiva é MAU. Não pode! Só pode sentir bem, só pode abrir as portas para aquilo que é "bom", aquilo que é "construtivo".

Foda-se eles.

De tanto sentimento batendo desesperadamente na porta de nossas casas pedindo por abrigo acabamos de fachada destruída e habitantes inquietos com o barulho e gritaria daqueles que querem entrar. Os sentimentos negados NÃO VÃO embora. Eles vão ficar ali, madrugar deitados no tapete velho de boas vindas banhados de humilhação e vão pedir para entrar tempo o suficiente para que outros como eles apareçam e se juntem, crescendo em número e tamanho tudo aquilo que insistimos em deixar porta afora. E a pior verdade é que nem mesmo as maiores portas de aço, reforçadas nas dobradiças e com as fechaduras mais caras irão deixá-los no lado de fora. Eles vão entrar. Em alguma hora, invadirão a casa pelas janelas e te surpreenderão, machucados e pedintes, chorando por atenção, maiores do que deveriam ser, mais amedrontadores do que antes e tristes, preenchidos pela nossa própria repulsa.

Seria bom se deixássemos as portas sempre abertas. Se sentíssemos a tristeza daquela pessoa amiga que não é mais a mesma de antigamente. A raiva daquele calor que faz suar e traz mosquitos irritantes. A inveja daquela pessoa de folga enquanto se trabalha sábado de manhã. A solidão de quando se é abandonado. O cansaço de todas as vezes que se solidarizam por você simplesmente ser do jeito que é.

São os sentimentos sórdidos excluídos e afastados  tão nossos quanto todos os outros. Tão cheios de razões e motivos quanto todos os outros. Tão cheios de direito quanto todos os outros.
É tudo original e da mais alta qualidade. É tudo normal. É tudo ok. Sentir é ok.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Dia de praia

  Eu mergulhava por dois motivos.
  1-Para passar as mãos nos cabelos e joga-los para trás. Não estão grandes o suficiente para que ele fique, de fato, para trás. Principalmente fora d'água. Mas é bom sentir os fios indo no seu sentido contrário, como se quando eu emergisse meus cabelos estivessem molhados e esticados como aqueles atores estereotipados no padrão de beleza holywoodiano.
  2-Para ficar sozinho.

  Eu não estava na praia de Itacoatiara  às 15:00 da tarde me queimando em baixo daquele sol sozinho. Tinha ido com algumas pessoas. Pessoas que eu já conheço há anos. Eu mergulhava insistentemente para sentir o silêncio momentâneo limpar minha mente e deixar apenas os meus batimentos cardíacos pulsando nos ouvidos para me acalmar. É comum, isso. Me afastar deliberadamente daquilo que me quer longe. Porque aí então a culpa é minha, e eu prefiro estar separado por escolha própria.

  Mergulha, joga os cabelos para trás, emerge, pisca forte e sente o sal da água arder os lábios. Olha para eles e vê seus olhares felizes, seus sorrisos genuínos, suas trocas de amizade, piadas, conversas, olhares, toques. Eles parecem estar se divertindo. Eu mergulho e quando volto a superfície, desejo meus amigos, aqueles que me ouvem e que veem. Ainda com o sol nas costas deixando minha pele cada vez mais vermelha, não é tão difícil de lembrar de todas as vezes que me fizeram pensar que minha cabeça havia os colocado contra mim. Que minha cabeça tinha me excluído. Veja bem, para uma pessoa com o meu histórico, é fácil pensar que estou me sabotando por conta própria. Passei metade de uma vida com depressão, descobri como é o gosto do sangue quando nosso e extraído por nós mesmos. Sou treinado e formado em auto-destruição. Sou acostumado a ser uma bomba relógio.
  E aí eu cresço. Como um adulto mesmo, como alguém que passou por muito, evoluiu e mudou. Eu me curo, me preparo para algo novo, uma fase nova. E conheço eles. E penso que eles me tratam como um deles. E me engano. E me forço a pensar o contrário. Porque "Eduardo, você precisa se tratar, isso é tudo coisa da sua cabeça.". E embora eu tenha ouvido essa frase durante toda minha vida, agora insistem em dizer isso, como se tudo o que eu visse, tudo o que eu vivesse fosse partido de uma paranoia doente das minhas crises e manias depressivas. É como ser silenciado. Me ver sendo posto de lado e ser obrigado a culpar ninguém além de mim mesmo. Eu só queria poder mostrar cada comentário mal intencionado, cada olhar que quando não é desviado com desinteresse, é impregnado com aquele nojo sutil que só quem recebe pode ver. Queria poder mostrar todas as inúmeras vezes que eu falei algo e que nem sequer me deram atenção. Todas as vezes que repetiram algo que eu falei logo depois de mim e receberam aplausos e risadas em resposta. É muito explícito, é muito tóxico, é muito triste. E embora eu acabe no mesmo fundo do poço toda vez que me esbarro com eles por amor, aquele amor que eu tenho pela moça mineira, eu tento lembrar de quando estou com meus amigos de infância ou quando estou com meus amigos do trabalho. Quando estou com meus amigos de verdade. Sinto vontade de chorar ao lembrar deles rindo das minhas piadas, deles me ouvindo, deles se importando em me ter por perto. Tento lembrar de como é me sentir em casa.
  Mergulho, jogo os cabelos para trás,  fecho os olhos e ouço meu coração bater. Tento fazer um longo tempo até emergir e me ver refém novamente na casa de estranhos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

especial

Seu olhar era pesado e sóbrio apesar dos três martínis já consumidos até aquela hora da noite. Ele olhava a tudo e a todos, era observador. Deu uma golada profunda na bebida e tirou o maço de cigarros da sua jaqueta de couro. Fez um sinal para o barman e ele deu de ombros. Acendeu o cigarro e tragou profundamente. Era o primeiro em dias, prometeu a si mesmo que iria fumar apenas em ocasiões especiais, e sabia que aquela noite naquele bar era especial. Não porque iria encontrar com alguém ou fazer algo de extraordinário, aquela saída não iria longe. Mas o dia foi especial porque ele disse que assim seria. Porque ele colocou sua jaqueta preferida e vestiu sua calça jeans relativamente nova e saiu para as ruas. Levou consigo o cigarro e o dinheiro para beber algo porque a situação financeira atual dava à ele essa privilegiada brecha. Então depois de um longo banho, cabelo lavado e penteado ainda molhado, ele saiu de casa em busca de algo especial. E então estava lá, fumando seu cigarro aos chuviscos de álcool. Sabia que vários olhares caiam sobre ele. Não pelo cigarro, pelo martíni ou até mesmo pela jaqueta de couro. Estava frio e a noite era acolhedora aos que estavam sozinhos e bem vestidos. Olhavam-no porque ele tinha algo. Talvez no seu olhar meio caído e penetrante ou até mesmo na sua barba por fazer. Sabia do seu poder e da sua influência em todos aqueles que poderiam se interessar pelo seu sexo. E entendia por alguns motivos o porquê de ser assim, tão chamativo, tão expansivo. Tragou novamente o cigarro já no fim e apagou-o no cinzeiro que o barman acabara de colocar ali. Respirou fundo e pediu outra bebida.