quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
especial
Seu olhar era pesado e sóbrio apesar dos três martínis já consumidos até aquela hora da noite. Ele olhava a tudo e a todos, era observador. Deu uma golada profunda na bebida e tirou o maço de cigarros da sua jaqueta de couro. Fez um sinal para o barman e ele deu de ombros. Acendeu o cigarro e tragou profundamente. Era o primeiro em dias, prometeu a si mesmo que iria fumar apenas em ocasiões especiais, e sabia que aquela noite naquele bar era especial. Não porque iria encontrar com alguém ou fazer algo de extraordinário, aquela saída não iria longe. Mas o dia foi especial porque ele disse que assim seria. Porque ele colocou sua jaqueta preferida e vestiu sua calça jeans relativamente nova e saiu para as ruas. Levou consigo o cigarro e o dinheiro para beber algo porque a situação financeira atual dava à ele essa privilegiada brecha. Então depois de um longo banho, cabelo lavado e penteado ainda molhado, ele saiu de casa em busca de algo especial. E então estava lá, fumando seu cigarro aos chuviscos de álcool. Sabia que vários olhares caiam sobre ele. Não pelo cigarro, pelo martíni ou até mesmo pela jaqueta de couro. Estava frio e a noite era acolhedora aos que estavam sozinhos e bem vestidos. Olhavam-no porque ele tinha algo. Talvez no seu olhar meio caído e penetrante ou até mesmo na sua barba por fazer. Sabia do seu poder e da sua influência em todos aqueles que poderiam se interessar pelo seu sexo. E entendia por alguns motivos o porquê de ser assim, tão chamativo, tão expansivo. Tragou novamente o cigarro já no fim e apagou-o no cinzeiro que o barman acabara de colocar ali. Respirou fundo e pediu outra bebida.
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