quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Tempo

Se me dessem um dia no futuro
não gostaria, e meu corpo empolaria em feridas
que abririam em sangue
A matéria desse corpo é do presente

Se me dessem um dia no passado
não gostaria, e meus sentidos falhariam
Língua áspera, olhos secos, nariz dormente e digitais rasgadas
A matéria desse corpo é do presente

E não digo que sou bobo 
que perderia os números de loteria
ou que não aproveitaria melhor das despedidas
que quando se deram nem nome tinham 

Apenas aceito, com a prepotência de cogitar
hipóteses possíveis ou iludidas 
porque se tudo me diz que é aqui onde devo estar
tiro a responsabilidade dos meus ombros e entrego ao tempo

E se tudo me diz que aqui devo permanecer 
Até que aqui torne-se lá
Já não sou obrigado e nem responsável
Deixo o universo, o fluxo das águas
a direção dos ventos e do tempo decidirem