sábado, 23 de setembro de 2017

Você

Por que?
Me pergunto tantas vezes que é quase como se eu já pudesse ter as respostas. Quase.
Por que?
Foi quando, exatamente, que você perdeu o interesse em mim?
Talvez tenha sido quando me viu pessoalmente, penso com frequência. Eu sou magro demais pra você? Gordo demais? Alto ou baixo?
Me diz, me explica, qual parte de mim te disse "esse não"?
Talvez minha personalidade. Muito provavelmente meu coração mole e vermelho forte. Sinto demais, é isso? Ou talvez meu senso de humor bobo. Não te fiz rir?
Só me mostra. Aponta, nem precisa dizer nada!
Foi de onde eu vim? Minhas raízes. Onde eu moro? É longe? Perto demais?
O que foi?
Ou teria sido apenas a falta de interesse. Por completo. Acordou naquela manhã seguinte e pensou "não quero mais". A mudança súbita de gosto para desgosto.
Ou então, querido, foi você? Pergunta retórica, perdão. É claro que foi você.
Afinal, foi você quem foi embora, não? E teve todo direito. Sempre terá. Afinal, você é de si mesmo.
Foi você que não quis. Foi você que não gostou. Foi você que não achou o que queria.
Erro meu de pensar que o problema estava em mim. De pensar que não fui querido por ser quando na verdade não o fui por você. Porque se tu foi embora, os erros, problemas e desdesejos foram todos seus, amor.
Todos seus.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Sinceridade

Minhas palavras têm saído constrangidas, temerosas de não estarem me servindo certo. Escrevendo para outros, produzindo para estranhos.
Por que?
Eu vou ser sincero.
Pela atenção. Pela admiração. Pelo gosto alheio. Pelo like.
Então agora tentarei uma reconciliação. Me desculpa, minha arte?
Agora eu vou ser sincero.
Há esse desconforto no meu peito. Dor que vai subindo e para na cabeça, trazendo aquela instabilidade emocional que conheço bem até demais. Estou bem, sim, esse é um fato. Mas onde estou bem? Acho que estou bem na beira de um precipício. Um passo em falso e é adeus. Quero ficar bem em planícies, em lagoas rasas. Não quero cair.
Eu vou ser sincero, talvez eu ainda não tenha aceitado completamente estas últimas desavenças do destino que me aconteceram. Esses últimos distanciamentos e negações. Negações de fora pra dentro e de dentro para dentro. É bem verdade que entendi, mas entender nem sempre é tomar o entendido como parte de si. Saber o caminho da razão e se pôr a caminha-lo não quer dizer que você vai passar por ele sem problemas. Sempre disse que aceitação é cura, e acho que é disso que preciso agora.
É com sinceridade que digo as palavras : Quero ficar bem. Ficar bem mesmo. Não esse bem meia boca que me aflige o peito. E é com sinceridade também que prometo tentar ao máximo chegar a esse ponto.
Sou tão impaciente. Tão descontrolado. Tão cheio, sempre como um copo quase a transbordar. Qualquer movimento e água escorre. Não quero mais dessa água a escorrer. Vou ser sincero e digo que não gosto de chorar. O faço como válvula de escape. Instinto de sobrevivência. Vou ser sincero comigo mesmo e não vou me esconder atrás de aparências gostáveis. Sou o que sou. Não preciso vender isso para ninguém ou até mesmo dar de graça. É algo a resolver aqui dentro, sem opinião de terceiros.
Fui sincero, de coração, palavras e sentimento. Fui sincero porque sinceridade é clareza. Fui sincero porque os tempos são difíceis e os corações estão morrendo sufocando-se em mentiras.
Que as deusas abençoem os sinceros.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

phoenix

Ele se pergunta, se dói, se sofre
Refaz seus passos e analisa os dados
Toca no punho da faca empalando seu peito e sente o sangue quente
Sabe que se tirá-la vai sangrar mais, então se concentra, planeja

Ele se recua, se resguarda, se cuida
Procura um porto seguro, toma distância 
Grita silenciosamente por socorro
Corre, não sabe pra onde. Come, mas não sabe do que tem fome.

Ele se culpa, se julga, 
Aponta os erros, define-se nos defeitos
Entra em queda livre, silêncio na garganta
Cai, espatifa, desmaterializa, some

Ele se deixa, se vai, se morre
Sente saudade dos bons momentos
Pergunta sobre o peso dos mesmos
Acaba

Ele se volta, se guarda, se cura
Entende que o mundo é de ciclos
Que sentimentos devem ser vividos
Nasce de novo, amor no corpo, 
Aceita-se todo

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Meus olhos

Fiquei frustrado ao saber que tive uma ideia usada. A divagar sobre meus olhos, tive-os como uma extensão de mim mesmo. Uma janela para uma parte íntima e pessoal de mim. E é aí que Leonardo da Vinci chegou algumas centenas de anos mais cedo, dizendo:
"Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo."
Vamos aos meus olhos. Eles são castanhos.Vinte um anos. Cresceram bem, enxergam de perto ou de longe. Já choraram muito e viram o dobro. Meus olhos. Lembro quando falaram que estes eram tristes, que mostravam o sofrimento que eu já havia passado e até mesmo o qual eu ainda iria passar. Outros disseram que meus olhos traziam um olhar infantil. Uma inocência que poderia, inclusive, ser o motivo da minha feição de criança. Ah, meus olhos....
Passei algum tempo perguntando o que eles queriam dizer. O porquê das suas ideias quanto aos meus olhos. Até que procurei a resposta no lugar onde todos os autoquestionamentos tomam vida: em mim. No dono dos olhos infantis. E lembrei que somos todos caixinhas. Maiores com o passar do tempo, sempre a encher-se de experiências, emoções, traumas, memórias, dores e amores. Sou uma caixinha e nem me disponho a começar a listar todo conteúdo. Há um erro obscuro em querer se definir com totalidade. Mas pense nessa caixinha de olhos. Meus olhos.
Entre mil coisas, sou de sentimentos. De sentir. De amar, animar, ter medo, de esperar, de desejo. Sou da sensibilidade e do favor ao autoconhecimento livre de quaisquer preconceitos. Sentir é arte e sentir demais faz parte. Talvez seja isso que meus olhos passam. Não é tristeza ou infantilidade. É essa pequena parte intrínseca, sensível e iluminada que guardo no meu peito durante todos esses anos. Uma essência que quase consegue me definir.
E volta e meia me pego com receio de manter as janelas abertas. O que vão pensar de minha casa? Os móveis vivem desarrumados e as roupas sujas se espalham pelo chão. Espero que alguém veja que não sou de todo bagunça. Espero que alguém veja que há ordem nesse pequeno caos que sou eu. Quando espiarem pelas minhas janelas, espero que vejam certo. Espero que me vejam.

Turistas

  Estou na orla do Gragoatá, meu campus da UFF. Estou deitado na grama e meus pés descalços sentem o vento gelado bater com uma sensibilidade atípica. O som é da água batendo nas pedras logo abaixo e o cheiro é de mato e água. Eu gosto daqui, de olhar toda a quantidade de água que se alastra até a enorme ponte Rio-Niterói e além dela. Também gosto dos diversos barcos, navios, barcas ou seja lá os nomes desses veículos aquáticos que se espalham como brinquedos de criança pequena pelo chão da sala. Tudo isso me conforta, me acalma.
  Porém, não estou realmente lá. Estou em casa, sentado na varanda a ver nada além do meu quintal e seus muros. Mas sou um escritor, logo, um mentiroso. Não estive, de fato, em metade dos lugares que visitei. Alguns eu criei, outros arranjei passagens temporárias, universos alheios. Sempre um anfitrião de escassos leitores ou um convidado de amigos escritores.
  De palavras somos todos turistas.
 

domingo, 17 de setembro de 2017

Fumaça

Acende, traga, sopra, pensa
Mudança dos meus antigos e novos
Agrego, altero, evoluo

Traga, sopra, pensa
Categorização do ser, divisão, segregação
Regulamento de como ver, como querer

Traga, sopra, pensa
Sufocamento de desejo, medo
Conhecimento, aceitação, cura

Traga, sopra pensa
Autoconhecimento, autoajuda, autoamor
Peso nos ombros, falta de tempo, força

Traga, sopra, pensa
Calma, paz, presente, agora
Impermanência

Traga, sopra, pensa
Apaga