A figura paterna, tão dentro de mim
Não fui pai, mas criei filhos
Não fui mãe, mas conflitos e ideias cresceram
No meu ventre? Se não tenho um, onde guardo isso?
Onde cresci os medos, onde criei minhas questões?
Para onde foram meus nutrientes e de qual maneira eu poderia dar de mamar?
Minha alma é gestante e minha mente vagueia pelo campo
Procura quem precisa de ajuda, se doa como se acolhe um filho
Mas a mulher grávida anda de pés descalços na lama
Veste trapos e não sabe pra onde vai
Apenas vagando, pouco lúcida, duvidosa de suas necessidades
Um seio coberto pelo tecido sujo e amarrotado
Outro pendendo para fora, a glândula mamária protusa,
mordida e de feridas com sangue seco
O leite provavelmente acabou, não há mais suco, nem cura
Onde estão meus filhos? Ouço o choro
Vejo seus corpos pequenos em meio ao desastre
Minha alma de mamas afetadas deita sobre a grama
Não é só onde forneço que dói, todo o resto também grita por ajuda
Onde está minha mãe? Onde está meu pai?
Pensei que a história pudesse começar por mim
Mas pareço o ponto zero
Começo, meio e fim, tudo junto no pequeno bico do peito
A língua da mulher como lixa passeia pela boca em atrito
Sua secura alerta a desidratação que percorre todo seu corpo
Ela deita sobre a terra e espera, sem muitas esperanças
que a terra lhe dê o que for preciso
Espera que o solo fofo tenha nutrientes o suficiente
Na umidade escura ela fecha os olhos e espera
E apenas isso
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