domingo, 8 de novembro de 2020

Meu cemitério de navio

 

Há alguns dias abandonei navio

Pulei em água fria, minhas juntas petrificaram-se em gelo

Achei que estava fugindo dos problemas

Que a tripulação era o que eu ia deixar pra trás

Mas na água me rondavam as almas dos meus mortos

Olhavam pra mim com os mesmos olhos de quando morreram

O medo da escuridão abaixo d'água e a companhia fúnebre

Só me senti mais sozinho, mais frio, mais derrotado

Meu corpo foi até o fundo, onde pensei que fugiria

Matei tudo, matei todos, morri comigo mesmo

Acenderia um cigarro nas profundezas do meu medo?

É apenas o que faço, espero as almas se assentarem

Mas sempre correm a minha volta com medo e agitadas

Há alguns dias abandonei navio

E enterrei ele comigo mesmo

Em meio ao oceano

Cavei minha cova e morri com meus medos

Porque tive medo de enfrenta-los

Então os afoguei, junto do meu corpo

Onde todos morremos de olhos fechados

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