domingo, 30 de outubro de 2016

Único

Por que esse sentimento singular de que você é único? Na verdade, não é que eu sinta isso, o que sinto é outra coisa. O que sinto é que meu sentimento por você é único, singular, excêntrico, sem par. Mas por esse momento de texto divagante, vamos levar em conta que não somos únicos. Que somos todos iguais. ( Me desculpe mãe terra, sei que tu nos criaste todos únicos até as pontas dos cabelos, eu só quero ignorar tal fato para, por um momento, sustentar minha ideia.)
Desde que a raposa falou para o pequeno menino príncipe sobre o que é essencial, venho com essa ideia de unidade. Te peguei como uma rosa igual entre todas as rosas, e aí você me cativou, e aí eu te vi como uma rosa diferente, singular.
Mas já não te quero. Rosa, saia daqui! Pena que, embora lhe vire o rosto, ainda consigo sentir teu perfume, ver, mesmo de olhos fechados, sua beleza cativante. Seu vermelho ardente ainda me aquece, mesmo contra minha vontade. Maldita ideia de unidade. Maldita ideia de que você é único!
Me prendo a toa. Passo por outras rosas e não dou seu devido valor porque me cativei a você. E mesmo tirando pétala sim e pétala não perguntando "ele me ama?" você continua na minha mão, viva e assustadoramente perfeita. Única.
Então porque? Porque apontamos os outros e os unificamos? Num mundo tão solitário e frio tais atitudes são no mínimo irracionais e mal pensadas. Não vou dizer que quem manda é o coração. Acredito que nossos sentimentos não são independentes. Eles são nós assim como somos eles. Mas digo, sim, que somos estúpidos. Somos seres desprovidos de cautela que amam, gostam, odeiam e unificam os outros.
Mas você me entende quando digo que a estupidez é nossa maior fraqueza mas ainda assim nossa maior força?
Somos todos estúpidos, e eu gosto disso.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Tombo

Hoje eu caí. Caí de lado com força no chão. Mas as circunstâncias foram, no mínimo, diferentes de um tombo normal. O que me jogou no chão da rua não foi mera gravidade, foi uma bicicleta enorme com um cara em cima. Ele caiu comigo também. Caímos juntos. Ouvi alguns palavrões mas não sei quais ele falou e quais eu falei, foi uma confusão total. Quando levantei, perplexo, o cara começou a examinar a sua bicicleta enquanto me ofendia, explodindo de raiva. Apenas olhei ele enquanto terminava de analisar sua bicicleta, subia na mesma e ia embora.
Cadê a FUCKING empatia? Compaixão? Consideração, sei lá a melhor palavra. Bem, com tantos anos nesse mundo seco e desprovido de boas maneiras, o surpreendente é ainda nos surpreendermos com essas coisas.
As partes que ralei e cortei agora ardem quando tomo banho. As feridas são sem graça mas doem que nem o inferno, qual é a graça disso?! Deveria ser o contrário. Minha camisa rasgada virou pano de chão em menos de 5 horas.
Engraçado é que eu fiquei procurando um pensamento certo. Algo que devesse ser pensado após ser atropelado por uma bicicleta. Pensei no meu irmão que morreu atropelado por um carro. Foi a minha experiência mais próxima disso. Mas não... Algo mais. Procurei no decorrer do dia alguma faísca do que eu deveria pensar. Dor? Tristeza? Fúria? Nada. É claro que fiquei bem descontente. Quero dizer, eu nunca tinha visto uma bicicleta tão grande. Eu capotei no asfalto com um completo estranho que posteriormente iria me chamar de nomes feios. Mas e agora? É perturbador esse vazio preenchendo o lugar daquilo que achamos merecer alguma coisa importante. O vazio que substitui seja lá o que for que deveríamos sentir. Deveríamos pensar.
Bem, fazer o que. Parece que vou continuar como ontem, depois como hoje e depois como amanhã. Fazer caso das coisas pequenas só porque quero e ignorar os tombos que levo. 

sábado, 22 de outubro de 2016

Consuelo

Consuelo, Consuelo, Consuelo
Não to acostumado a fazer poema pra gente
Mas pra você eu faço, algumas palavras soltas
com muito valor, meu pequeno presente
Já vi esse teu cabelo escuro em mil tamanhos diferentes
seu humor em mil cores e seu coração em mil dores
seu olhar, um doce de mil sabores e sua alma, ah.... mil flores
Não sei até que parte eu sou daí, dessa sua vida de raízes mineiras
mas você está aqui, me enchendo de graça, amor e outras coisas
Feliz em me ver, você grita migo e me abraça
Feliz em te ter, eu rio e perco a fala
Vamos, então, nos perder nos compartilhamentos de dores e amores
Porque eu sinto muito de você e sei que você sente de mim também
Então é isso, Consuelo
Te tenho em zelo, em muito te vejo sem qualquer apelo
Feliz aniversário, Con, Consu, Consuelo. Consugrelo.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Nadar

  A piscina é funda. Mergulho o suficiente para encostar os pés no piso, dou um impulso pra cima e depois de inspirar com selvageria, encosto os pés na parede atrás de mim e me lanço para frente. É libertador, meu corpo cortando a água e fazendo parte dela. Mãos apontadas para frente, movimento que progride, avanço, suavidade, descanso.
  E então preciso me esforçar. Braçada, ar, braçada, soprar, braçada, ar, braçada, soprar. Chutar para dentro, mexer os quadris, mexer os pés, mexer as pernas. É tudo mais pesado, aquático. É cansativo, explícito, rígido.
  Mas estou na água. Estou no meu lugar, no meu elemento, no meu eu. Tento me focar numa natação em atenção plena, então coloco meus pensamentos na água entrando e saindo dos meus ouvidos, na respiração forçada, no meu rosto molhado. Mas não consigo. Estou cansado demais, quero me perder nos meus vícios de fazer metáfora de tudo, pensar em tudo, lembrar de tudo. Então a cada braçada penso nos rostos, nos momentos, nos desalentos. Penso nele, naquele outro, naquelas coisas, penso em mim. Penso naquele instinto sórdido e mau que quer fazer o pior de mim. Mas peço ajuda a agua, porque ela me entende tão bem, me completa tão perfeitamente...
  Eu nado e não há nada mais. Eu nado porque, por um momento, as coisas são simples e eu só preciso chegar de um ponto ao outro, não importa o quão difícil pareça. Quantos quilômetros se fazem dos metros que devo ultrapassar. É simples.
  E não seria realmente tão simples assim? Invoco de novo, para você que lê meus textos, aquele meu querido mantra. Como água de rio, vem, fica passa. Aceitação é cura, e eu gosto de dizer isso desde que soltei a frase com ele, e ele disse algo como "isso é algo bonito".
  E aí que eu continuo em constante cura. A vida passa o tempo todo me fazendo aceitar coisas, mas não digo sobre aceitar aquilo que posso mudar, ou aquilo que eu preciso mudar e que, racionalmente, deve ser mudado. Eu falo de resiliência. De ver as coisas como são e abraçá-las desse modo. Abraçar-me como sou, aceitar-me como sou. E aceitar tudo como é, mesmo que as vezes pareça uma perfeita merda.
  Então estou eu na fila do ônibus, bem nadado e cloro no cabelo. Fones de ouvido tocando Young The Giant. Quando chega no fim da música, onde tem apenas um instrumental, penso em pular a faixa. Mas me freio por um momento. Por que eu quero pular de faixa só porque essa está no fim? Por que não me deixar levar, com calma, pela playlist suffle do meu celular? Com o dedo pousado no botão, inspirei, expirei e aceitei o fim da melodia. Ouvi seu instrumental com um pensamento acolhedor, com uma postura de recebimento. Aí veio o silêncio. A música acabou, a fase acabou. Passou. Sem medir esforços, eu passei pelo que minha ansiedade pedia para pular. Já não sabendo mais onde terminava a metáfora da minha playlist e começava a minha vida, esperei pela próxima música, destinado veemente a ouvir toda ela. A, mesmo que fosse uma que eu não gostasse tanto, aceitá-la como ela é. Ouvir a música como eu vivo a vida. Foi aí que tocou a minha preferida. Um sorriso inesperado tocou os meus lábios e eu ri. Aceitei as coisas como são. Porque elas são sempre mais verdadeiras e melhores do que como deveriam ser.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Casa

Eu fiz chá. E com um livro cuja leitura está nas minhas costas há semanas, te espero no sofá de casa. Da nossa casa. Não consegui ler muitas páginas porque minha cabeça hoje insiste em divagar, então quando você abre a porta da sala fazendo aquele barulho familiar das suas chaves dançando no chaveiro, te vejo entrar. Seus cabelos molhados levam minha atenção à janela. Começo como uma pergunta e termino afirmando que está chovendo lá fora. Você não diz nada, apenas passa os dedos pelos seus cabelos e vem na minha direção. Fecho o livro e coloco ao lado da xícara meio cheia de chá de camomila. Ganho um beijo gentil nos seus lábios e depois você se recosta entre minhas pernas, buscando calor humano. Com uma risada abafada, te puxo para mais perto, mantenho o maior contato possível. Te abraço. Você tira uma embalagem do bolso e me entrega. A trufa é de chocolate meio amargo, não gosto muito do sabor mas sorrio e agradeço, pois o gesto é mais doce do que qualquer chocolate poderia ser. Você diz que já é quase natal e temos que comprar as coisas para a árvore, já que é o nosso primeiro ano juntos. Enquanto combinamos os enfeites que irão decorar nosso apartamento, acaricio seu queixo com a barba que está por nascer. Falamos e divagamos juntos por alguns momentos, os minutos passam e continuamos ali, no sofá de casa. Da nossa casa. Talvez isso seja de amor. Do nosso amor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Identidade

Imagina se eu fosse que nem minha ID. Uma sequência de números. Quase único. Me pouparia de questões, de mudanças, de dúvidas. Seria fixo, permanente, assíduo. Mas cá estou eu, longe do padrão, a constante comparação, muitas vezes em contramão. Estaria eu definido nas minhas músicas? Nas coisas que assisto, na arte que absorvo? Ou será que minhas premissas partem de quem eu amo? Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Ou do que eu como? Feijão embaixo do arroz. Do que eu rio? Trocadilhos sem graça. Do que eu sinto? Ah... quanta coisa. De vez em quando me identifico no vento, sempre indo, rodopiando e dançando, sendo levado pra onde é mais fácil, pra onde eu devo ir. Mas e agora que as folhas das árvores estão paradas? E agora que não há o que me levar, não há quem me guiar? Pra onde vou?

Quem
sou
eu?

Seria a resposta disso a mesma de quem eu gostaria de ser? Ou de quem eu deveria ser? Quantas perguntas, minha cabeça cansa. Vamos, então, pra fim de conversa, me considerar água.
Assim, eu tenho várias formas. Tenho várias cores, vários sabores ou até mesmo nenhum. Sou mutável, sou impermanente. Venho, fico e vou. Quem sou eu? Ora essa, sou água. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Querido

Lembro de quando eu batia de frente com seu rosto nos pensamentos
Estômago selvagem e ansiedade batem a porta
Ai ai, só pode ser o amor
Mas agora, só o vazio
Sinto saudades, muitas!
Mas me desculpe a quebra do tom romântico de poesia
As saudades não são suas, são do que eu sentia
Do que eu queria, do que eu pedia
Então tudo bem, vai lá
Vou ficar aqui esperando a saudade de amar passar
Ir embora com você
Porque nesse coração meu, só amo eu
E um dia, talvez, eu ame que nem espelho
Espelho com sentimento que vai e volta
Quem sabe outra hora
Sentir é um ciclo
Você não é único, sei disso
Então até outro sentimento, querido
Sinto muito, mas não te sinto

sábado, 8 de outubro de 2016

Memória

  Dei uma pausa nos estudos de literatura portuguesa - que faço por nada além da obrigação - porque lembrei. A memória veio arrastando outras mil, todas como vento que roça na pele e deixa atentos os pelos da nuca. Há uma música dessa banda que eu tenho tatuada no meu braço chamada 'Ghosts that we knew'. Sua importância para mim eclodiu quando, no show deles em março desse ano (2016), eu despenquei em lágrimas no seu refrão, que segue:

  "So give me hope in the darkness that I'll see the light. Cuz oh, they gave me such a fright. But I'll hold as long as you like, just promise me we'll be alright"

  Eu nunca mais fui o mesmo depois dessa viagem a São Paulo. Nunca mais fui o mesmo depois que conheci o sorriso da Brenda e da Lauren, que me acolheram nos seus corações de ouro e fizeram tudo ser mais especial e mágico. De alguma forma, o refrão dessa música sintetizou tudo o que eu estava experienciando, tudo o que me rodeava e principalmente tudo o que se passava aqui dentro, nessa alma tão serena e, mesmo assim, tão cheia de revoltas que eu chamo de eu.

  Então, alguns dias como esses, algumas horas como essas, coloco a música para tocar ( versão lollapalooza 2016, maravilhosamente salva pela internet. Te amo internet.) e me perco nas memórias. A viagem de carro com pessoas maravilhosas naquela noite tão linda de São Paulo. Nosso constante tour pelos principais lugares. O show onde vi uma das minhas bandas favoritas com seus fogos de artifício no encerramento. O cachorro quente com purê de batata e o açaí congelado com leite em pó. Tudo vem na minha cabeça e é sempre bom. É sempre lindo. É sempre especial e único.

  Por fim eu agradeço à deusa, às energias ou simplesmente à natureza. Nenhuma frase clichê de " Dias melhores virão" serão tão surpreendentemente úteis como essas memórias. Não as uso para viver no passado porque meu lugar é no presente e eu sei disso. Mas são elas que me mostram que não está tudo acabado. Que há algo pelo qual viver. Há momentos em que tudo vai parecer ter valido a pena. Há esperança. São por essas memórias que eu vivo. É delas que existo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Liberdade

Na viagem pra casa, senti liberdade
Acho que liberdade pode ser felicidade
Solto como pena, urgente como bala
Bala perdida mas que progride, que avança, que atinge

Me senti grande, implacável, claro
Fugido da bad vibe, preocupações em standby
Me limito ao vento gelado no rosto
Sorriso disposto, luz de novo

Faço de tudo uma metáfora
Pequenas histórias ensaiadas
Me sinto aberto para os dois lados, inspirar, expirar
Pronto para seguir, orgulhoso de partir

Mas as manhãs silenciosas ainda me assustam
Saudade irracional, ferida com sal
A cicatriz no braço esquerdo fica mais clara
O zumbido insistente me abala

Tomo banho, água fria no cabelo
Me limpo e me foco, volto logo
Agora é hora de sair de casa, sorriso na cara
Rosto no vento, amor no peito

Me perco, por fim, nas cicatrizes de corpo e alma que me enfeitam
Linhas tortas que me desenham
Me lembram como fui forte, como cheguei tão longe
Como encarei as verdades, como ganhei liberdade

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Casca

  Eu ia meditar agora, mas tenho a perfeita noção de que minha urgência para escrever essas palavras que tentam demonstrar algo que, por súbita clareza, descobri, iria atrapalhar tudo.
  Já passei dias de neutralização. Vi pessoas, mas nada além da casca, aquela feita de carne e osso. Já passei por dias de calmaria tão serenos que com a cabeça encostada na superfície tremida da janela do ônibus eu apenas pedia para sentir algo. Para ter por quem sentir.
  E agora sinto. Até demais, inclusive. Passo parte do tempo cogitando e a outra parte do tempo me regrando. Insisto para comigo mesmo que é passageiro, mas não importa quantas vezes eu o repita, não vai embora quando eu quero. Provavelmente só o tempo dirá. E ele não diz pra mim. Tempo, oh tempo, me liberta logo desse vício.
  De qualquer maneira, ganhei o que eu pedi. Sinto o que uma vez quis. E porque é tão difícil? A vida é a vida, nada acontece perfeitamente de acordo com o planejado. Prefiro me perder a olhar a situação como um todo. Ver isso como algo que eu possa perder. E sinto uma pequena dor ao imaginar esse amor passar. Ao imaginar voltar a olhar como antes. Olhar-te só a casca. Olhar como outros olham.
  Mas parece que minha vez não é essa. Mais uma vez o cupido erra. Amar e ser amado de volta? Oxi, quem me dera.

domingo, 2 de outubro de 2016

Sentidos

Vira essa careta pra lá
Meu signo é esse, meu coração é desses
Não me venha com esse papo frio, rígido, duro
Eu quero é sentir, sentir bem, sentir muito

Vira essa careta pra lá
Choro sim, ligo sim, me importo sim
Nessa cultura onde quem sente é quem erra
Meu amor supera, a sensibilidade impera

Vira essa careta pra lá
Longe de neutralizadores, sentir sem máscaras é meu hino
Dispenso seu teatro de emoções, o que eu sinto é real
Amar é artesanal

Então, por favor, vira essa careta pra lá
Que quem sente não peca e nem erra
Sentir é arte
E sentir demais faz parte

Voto

  Hoje é dia de voto. Árvores caídas enfeitam o chão nos papéis mais inúteis que meus rascunhos de poema. Os brasileirinhos enchem as ruas , fazem festa na calçada. Cerveja goela abaixo e fumaça de churrasco.
   Político, política, politicagem.
   Já vi voto inútil sem ser nulo. Já vi esperança no futuro. Mas de golpes internos e externos eu já cansei, então vou me encolher aqui na paz do meu cantinho porque sem eleição alguma me elegeram. E do meu Brasil quem cuida sou eu.

sábado, 1 de outubro de 2016

Remédio

  Vassoura na mão, pano úmido na ponta que solta um cheirinho gostoso. O chão sai de sujo pra brilhante, brilhante pra fosco. Fosco é limpo. E cheiroso. Nos fones de ouvido toca The Vaccines. Último volume, o que minha otorrino diria se soubesse disso? Canto alto porque sei as letras, os ritmos, as quebradas, as falas. É bom ouvir música e me sentir bem com isso de novo. Naqueles dias que passaram nem as músicas me confortavam. Pensava que a música era remédio, mas quando nem elas me saravam, desesperei. Mas agora ouço bem, canto bem, sinto bem. O que deve estar me sarando? Algo aqui dentro. Passo o pano. Cheiro de rosas. Limpeza. Passo e limpo. Passando. Sempre passando. Vindo e indo. Limpando. Renovando. Crescendo.