domingo, 17 de março de 2019

força

Sou puxado pelo pulso e seja lá o que for, é forte. Tamanha força me diz que me possui. Às vezes faço esforço para me livrar e às vezes tento ao menos me manter de pé. O que me agarra? Me segura com paixão severa e me machuca. Sei que é algo que diz quem sou. Fazer ou não fazer, ir ou não ir, ser ou não ser. O que me segura é o que me dá coordenadas. Se sou livre, não o sei ainda. E não há como alçar voo quando se pensa que não pode voar. O que me segura diz que aquelas duas tragadas no cigarro são grandes o suficiente para me colocar sua na mão e me fechar lá dentro pra sempre, sem ar, no escuro, suando e sozinho. O que me segura diz que todos os sete dias são poucos e por isso não haverão muitos outros. O que me segura me diz como as coisas vão ser e eu não espero grandeza. Meu pulso dói e eu quero me soltar. Como? Imagino que expondo, projetando, me tornando real em palavras. Quero voar mas tenho medo de admitir que posso. Tenho medo de não poder. E quem além de mim poderia dizer?

segunda-feira, 4 de março de 2019

Primeira vez

E todas as vezes que chegava em casa e respondia "está tudo bem, sim" para sua mãe sabia, com dor, que era melhor poupá-la do sofrimento que colhia nas ruas, da rejeição e da apatia gratuita. Não havia porquê levar seu sofrimento pra casa, aquele era seu e mesmo que o distribuísse em pequenas doses de vez em quando, haviam aqueles que não mereciam.
Não estava acostumado, era a primeira vez que saíra de um conforto abafado e humano para o mundo, a primeira vez que nascia e vivia, e como todas as primeiras vezes se encontrava bastante (perdido). E não importa quantas sejam as repetições, como já dizia Renato Russo, a primeira vez sempre a ultima chance. Estava aqui, após não sei quantos anos, vivendo sua primeira vida e esperando o quê ia ser dele até o dia da sua primeira morte.