quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Dia de praia

  Eu mergulhava por dois motivos.
  1-Para passar as mãos nos cabelos e joga-los para trás. Não estão grandes o suficiente para que ele fique, de fato, para trás. Principalmente fora d'água. Mas é bom sentir os fios indo no seu sentido contrário, como se quando eu emergisse meus cabelos estivessem molhados e esticados como aqueles atores estereotipados no padrão de beleza holywoodiano.
  2-Para ficar sozinho.

  Eu não estava na praia de Itacoatiara  às 15:00 da tarde me queimando em baixo daquele sol sozinho. Tinha ido com algumas pessoas. Pessoas que eu já conheço há anos. Eu mergulhava insistentemente para sentir o silêncio momentâneo limpar minha mente e deixar apenas os meus batimentos cardíacos pulsando nos ouvidos para me acalmar. É comum, isso. Me afastar deliberadamente daquilo que me quer longe. Porque aí então a culpa é minha, e eu prefiro estar separado por escolha própria.

  Mergulha, joga os cabelos para trás, emerge, pisca forte e sente o sal da água arder os lábios. Olha para eles e vê seus olhares felizes, seus sorrisos genuínos, suas trocas de amizade, piadas, conversas, olhares, toques. Eles parecem estar se divertindo. Eu mergulho e quando volto a superfície, desejo meus amigos, aqueles que me ouvem e que veem. Ainda com o sol nas costas deixando minha pele cada vez mais vermelha, não é tão difícil de lembrar de todas as vezes que me fizeram pensar que minha cabeça havia os colocado contra mim. Que minha cabeça tinha me excluído. Veja bem, para uma pessoa com o meu histórico, é fácil pensar que estou me sabotando por conta própria. Passei metade de uma vida com depressão, descobri como é o gosto do sangue quando nosso e extraído por nós mesmos. Sou treinado e formado em auto-destruição. Sou acostumado a ser uma bomba relógio.
  E aí eu cresço. Como um adulto mesmo, como alguém que passou por muito, evoluiu e mudou. Eu me curo, me preparo para algo novo, uma fase nova. E conheço eles. E penso que eles me tratam como um deles. E me engano. E me forço a pensar o contrário. Porque "Eduardo, você precisa se tratar, isso é tudo coisa da sua cabeça.". E embora eu tenha ouvido essa frase durante toda minha vida, agora insistem em dizer isso, como se tudo o que eu visse, tudo o que eu vivesse fosse partido de uma paranoia doente das minhas crises e manias depressivas. É como ser silenciado. Me ver sendo posto de lado e ser obrigado a culpar ninguém além de mim mesmo. Eu só queria poder mostrar cada comentário mal intencionado, cada olhar que quando não é desviado com desinteresse, é impregnado com aquele nojo sutil que só quem recebe pode ver. Queria poder mostrar todas as inúmeras vezes que eu falei algo e que nem sequer me deram atenção. Todas as vezes que repetiram algo que eu falei logo depois de mim e receberam aplausos e risadas em resposta. É muito explícito, é muito tóxico, é muito triste. E embora eu acabe no mesmo fundo do poço toda vez que me esbarro com eles por amor, aquele amor que eu tenho pela moça mineira, eu tento lembrar de quando estou com meus amigos de infância ou quando estou com meus amigos do trabalho. Quando estou com meus amigos de verdade. Sinto vontade de chorar ao lembrar deles rindo das minhas piadas, deles me ouvindo, deles se importando em me ter por perto. Tento lembrar de como é me sentir em casa.
  Mergulho, jogo os cabelos para trás,  fecho os olhos e ouço meu coração bater. Tento fazer um longo tempo até emergir e me ver refém novamente na casa de estranhos.

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