sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Ânsia

Minha resposta vai ser em texto corrido, sem parágrafos e sem rodeios, sem rimas programadas ou intuito de beleza. Esse texto é carne crua jogada na terra, sangue escorrendo e moscas voando. Carne que já começa a apodrecer porque de alguma maneira é minha. Ou foi. Me arranquei fora com faca cega e joguei aqui, ordenado senão por pontos, vírgulas e algum senso de prioridade na ordem dos fatos. Estive enjoado esses dias e passo o tempo com essa ânsia dentro do corpo. Não sei se quero vomitar ou chorar. Mas transbordo. Transbordo como resultado de estar vazio, como uma tragada forte antes do almoço e sem café da manhã, a tontura e o peso dobrado. Passo os dias relacionando todas as coisas. Ligo o que posso ligar. Na mente sempre a mesma corrida. Sempre amei o ócio e só recentemente descobri que nem mesmo isso tenho o privilégio de ter. Mesmo parado as pernas balançam. Os dedos sempre batendo, a música nunca para. E agora que sei dos movimentos e sei das inquietudes? Quando me contemplo, me choco. Antes eu soubesse que se ver era tão dolorido, uma dor que não se compara à qualquer insatisfação do espelho. Pelo menos no espelho se tem a máscara corpo, e sem ele? A falta. Irmão morto. Amor imaginário. Pai de sangue. Amigo de riso. E como vestir o casaco pelas pernas, vem o excesso. Do cigarro, do café, da droga, da comida, da cobrança, do movimento. Sempre correndo, parar é difícil. Parar é quase impossível. Não me confio tal poder. Não me confio tal capacidade. E as coisas que às vezes parecem tão inevitavelmente certas justamente por serem como são... uma hora deixam de ser. E a corrida traz erro, raiva, tristeza, arrependimento e esse enjoo que não sei do quê. 

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