Estive doente, de novo. Fui ferido lá dentro por algo que não vi chegar e nem ir, a bem da verdade, eu não vi. É invisível, é sorrateiro, é sutil. Comecei a sangrar uma hemorragia interna. Dores se espalhando pelo espírito, como tratar? Por experiência própria, sei que precisava tirar o veneno.
Precisava expor o sangue contaminado, dar fim ao tumor que se espalhava.
Mas não saía
De jeito nenhum, não saía.
Então antes que conseguisse me curar ao sangrar em lágrimas, deixei de lado. Aceitei, deixei a dor lá dentro, lugar que ela mesma chamou de casa por anos.E algum tempo passou, tempo de percepções deturpadas. Por algum motivo, foi-se, mas sei que não chorei
Talvez só tenha se assentado.
Talvez tenha sido curado.
Mas eu sei que não é nada disso. Nunca foi. Sou que nem água, mole, simples, facilmente corrompido. E não peno por isso, porque água também é forte. Água é clara, leve, constante produto de mudanças.
A dor sempre insistiu em me pedir casa. Hóspede fiel por anos, tive que quebrar o hábito. Não sou rio dessas dores.
Então, dor, me desculpe, mas não te oferecerei mais abrigo. Entenda que não deixarei de ser teu amigo, nunca esquecerei a necessidade que há em te conhecer, te aceitar e te entender. Então vamos manter contato, me mande cartas!
Só não posso te deixar ficar por muito tempo, não mais. Até te faço um café, sentamos na varanda e cometemos o erro cruel de olhar para o passado. Mas não fique. Saiba sua hora de ir pois uma hora o café vai esfriar e as memórias vão azedar nas pontas de nossas línguas. Saiba me dizer adeus porque afinal de contas você não faz parte de mim.
E de mim muitas coisas já fazem.
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