segunda-feira, 30 de abril de 2018

Oração

Cresci numa casa evangélica.
Acredito que nossas circunstâncias atuais iluminam aquelas coisas que, anos atrás, estariam servindo de motivos iniciais. Não o contrário, como que se o passado definisse nosso presente, acho que essa é uma concepção que tomamos para aceitar as coisas mais facilmente. É o que faz sentido pra gente, algo fácil de engolir.
Eu orava. Fechava os olhos e falava com Ele, alguém de que minha família tinha muito respeito, que todos eles diziam amar mais do que qualquer um, inclusive nós mesmos. Eu sempre me perguntava o porquê desse amor ser tão grande, irracional e mal fundamentado. Hoje em dia entendo os porquês, mas sou grato de não compartilhar da mesma chama ao divino nunca visto. Meu lado divino se debandou para outras coisas, outros aspectos da vida que resolvi realmente dar valor. A questão é que as vezes me pego numa necessidade estranha de orar. Aliás, desde agora já vou me explicando porque não quero que muitas das minhas palavras sejam lidas enquanto pensem que eu quero orar pra "deus". Eu orava quando criança pra pedir. Agradecia por obrigação e pedia pra ganhar. Todos queremos ganhar coisas, desde crianças. Hoje eu escrevo. Peço? Peço. Mas sei que meu apelo é pra dentro, meu divino é outro. É engraçado como escrever (o que considero assim como muita gente uma ação solitária) me traz mais conforto e companhia do que falar, de olhos fechados e mente "aberta" para alguém que nunca chegou de fato a me responder. Sua resposta vinha das bocas daqueles que o glorifiavam. Demorei a perceber que a resposta era humana, assim como a mentira.
Portanto, eu escrevo. Agradeço por poder e saber estar aqui. Peço pra ganhar. Mas sei que não vou ganhar nada de ninguém. Peço pra ganhar de mim mesmo.
Me dê força de vontade, me dê olhos de observador e não de acusador, me dê inteligência intelectual e espiritual para saber meus meios. E por favor, me dê luz para que eu não me perca de novo.
Amém

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