Meia xícara de arte
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
Pouco
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Uma copia barata de fernando pessoa
Por mais incrível que pareça
Por mais risório
Não explodi
Não voei como pó
Não sumi do mundo
Não sucumbi
Por quê? Pra quem?
Do custo guardei todos os cupons fiscais
Da perda guardei todas as memórias
Porque ficaram todos lá
E não voltaram
Mas continuei
Só eu
Onde estão os que tem meu sangue
senão frios, por baixo ou por cima
da terra fria, que come e corrói
Quem vai me provar
que esse tempo não é extra
e que há um motivo
Para percorrer esses corredores
Varrer esse chão, fechar essas janelas
Abrir essas janelas
Quem vai me convencer
De que é certo estar aqui
De que valeu a pena ir tão longe
E suportar tanto
É como levar um copo dágua às fontes
E ir tão longe
É como escrever um livro sem letras, sem história
E continuar tentando
É como desistir, e perder
E perder, e perder
e perder
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Enrolar sacolas
Por quê caralhos estou enrolando sacolas?
Vou tentar escancarar os fatos em palavras, embora faça muito tempo que não venho aqui, tanto que ponderei um tempo sobre qual “porque” usar na primeira frase. Já escrevi um livro, pode imaginar? Eu não.
Mas voltando; Por quê caralhos estou enrolando sacolas?
Um lugar para as de tamanho médio, um para as de tamanho pequeno e outro para as grandes. Não paro de pensar na maneira que minha mãe costumava a enrolar sacolas depois de voltar do mercado. Como toda tarefa doméstica, eu não conseguia fazer do mesmo jeito que ela. É estranho sentir falta das raízes que formaram meus traumas. Mas hoje, só hoje, consigo ver o amor por trás do esporro. Que amor teimoso.
Segure pelas alças, puxe a sacola num tranco para que o ar lhe dê um formato mais uniforme, a esprema de cabo a rabo para virar um cilindro. E depois? Lembro de vê-la enrolando a sacola em volta do punho e fazendo um nó que a deixava compacta, pronta para se acomodar junto com todas as outras. Eu costumava a dizer que aquilo era desnecessário. Não digo mais.
Enquanto conseguia minimamente enfrentar toda aquela bagunça de pensamentos cruzando minha cabeça e eclodindo no meu peito, comecei a arrumar a casa. Quando me deparei com o lugar onde guardo as sacolas transbordando, com a alça podre prestes a cair da parede, decidi enrolar as sacolas.
Mas eu sei que não era o que tinha planejado. Eu tinha planejado lavar a louça, varrer.... Tinha? Em tempo real, enquanto escrevo, me pergunto, atônito: O que planejei? Se me ponho em retrocesso e análise, percebo que não planejei nada no final de contas. Talvez tenha jogado constatações mentais como uma pedra no fundo de um poço, “Vou fazer o que puder, porque desde que eu faça todos os dias, a bagunça e a sujeira não vão continuar acumulando.”
É claro, tenho a sisterna cheia de cocô e mato para limpar. O caminho desde o portão para abrir. Os matos da minha fachada para tirar. Minha varanda para coletar todo o lixo que varia entre bagulhos e até mesmo roupas que viraram farrapos de tanto tempo largadas. A área da piscina com uma cortina que tirei para lavar alguns meses atrás, em outra epifania de limpeza. Minha sala, com a estante cheia de documentos importantes que nunca mais consegui organizar, ela virou uma alegoria para o ponto de partida da minha resolução da faculdade, já que alguns documentos que preciso estão lá. Minha faculdade.... Quase dez anos de formação, muitas dores e reviravoltas para chegar num currículo 100% completo mas ainda assim, sem a coragem para mandar emails e descobrir como receber minhas horas complementares e me formar. É literalmente uma burocracia a se resolver, depois de tudo o que passei. Falando em burocracia, nunca imaginei que me demitiria de algum lugar e não daria baixa na minha carteira de trabalho por mais de 4 meses. E são quantos bancos, 5? Quanto em dívidas, dez mil? Não é exagero.
Aqui, dentre os cômodos que perdi pra bagunça e as roupas largadas, carrego baldes por falta de água encanada. A quase cada minuto, tenho espasmos físicos quando um relance de algum desses temas listados acima batem na minha cabeça. E aí me pergunto: por quê estou enrolando sacolas?
Uma voz baixa e rouca fala ao fundo que eu devo me lembrar de todos os dias que não enrolei sacolas e também não fiz nada além, que eu deveria me parabenizar por um ato tão simples porque é uma imagem de superação.
Mas as outras vozes gritam, com frequência e desenfreadamente: Você está enrolando sacolas. Não deveria fazer todo o resto?
Como dói acreditar nas vozes que gritam me obrigando a ter um desempenho sobrehumano quando vivo em condições desumanas. Encurralado pelas paredes, pela sujeira e por mim mesmo.
Quero acreditar na bênção de enrolar sacolas. E na energia comprovada aqui, por meio de palavras, de que eu posso fazer algo mais do que apenas apodrecer e esperar minha morte.
Factualmente, é verdade que devemos desistir de tentar resolver tudo e dar atenção às coisas paulatinamente, vez atrás de vez, para não sermos consumidos. Mas aqui estou eu, a enrolar sacolas, sendo consumido ainda assim por tudo que não faço, como se não houvesse outra escapatória para esse caos que me meti a não ser transcender. Evoluir para um outro tipo de ser, sem condições e distúrbios, forte e saudável, refrigerado e são. E se não transcendo, apago.
Quero lembrar da minha mãe. Ela não me passou bem como enrolar sacolas e nem a sua fé. Mas aqui, sentado no chão da cozinha, acabei de descobrir outra forma. Começo como minha mãezinha, mas depois do cilindro, eu dobro a sacola ao meio e dou um nó. Estranho e sem jeito, mas parece funcionar. Elas não abrem e ficam compactas. Provavelmente se ela visse, iria me julgar.
E a fé? Também não aprendi. Apenas, de alguma forma, a herdei depois de sua morte. Ela é torta e sem jeito, mas é. Algo me diz que não há enrolar sacolas sem ter fé e nem ter fé sem enrolar sacolas. Quero acreditar que um dia eu chegarei lá.
E não estarei sozinho, levarei os meus amigos.
Por enquanto, vou enrolar sacolas
terça-feira, 29 de outubro de 2024
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